Fundo Vale
Investe na bioeconomia e recuperação da Amazônia
Fundo Vale
Investe na bioeconomia e recuperação da Amazônia
Brasil / Fundação
O Fundo Vale é um dos veículos de investimento social voluntário da empresa Vale, a segunda maior mineradora do mundo. A sua missão é promover soluções com impacto socioambiental positivo que fortaleçam uma
economia sustentável, justa e inclusiva, com foco prioritário na Amazônia. Desde 2010, o Fundo Vale vem desenvolvendo um profundo conhecimento do contínuo de capital, permitindo-lhe desempenhar um papel estratégico em Venture Philanthropy no Brasil. Implementa implementa financiamento misto (blended finance) em suas operações, aliando recursos de fomento ao de investimento, com expectativa de retorno financeiro. Além disso, usa seu capital filantrópico para alavancar mais recursos para o impacto por meio de
parcerias em co-financiamento.
Descrição Geral
A Amazônia contém 40% das florestas tropicais, 20% da água potável e 20% das espécies que existem no mundo. Conserva entre 150 e 200 bilhões de toneladas de carbono, fazendo com que o Brasil desempenhe um papel fundamental no equilíbrio climático da Terra5. Apesar disso, até 2014, 45% dos investimentos de impacto eram realizados no sudeste do país, e havia apenas um investidor nacional identificado com presença na Amazônia6.
No entanto, a falta de investimentos de impacto nessa região não se deve ao fato de haver menos problemas a serem enfrentados. Por muitos anos, a Amazônia vem sendo afetada pelo tráfico de drogas, pessoas e armas, pela exploração madeireira, pela exploração ilegal da fauna e flora e, na última década, intensamente pelo garimpo ilegal, visto que se trata de uma importante fonte de renda para organizações criminosas. Isso reflete uma complexa conexão entre o crime organizado e as ameaças ao meio ambiente7.
Toda essa problemática e a falta de soluções para enfrentá-la levaram a companhia Vale a buscar formas de contribuir para a sustentabilidade da Amazônia, participando de um novo segmento do contínuo de capital do ecossistema de investimentos de impacto. Fez isso por meio da criação, em 2010, da Associação Vale com a missão de promover soluções com impacto socioambiental positivo para fortalecer uma economia sustentável, justa e inclusiva, com foco especial na Amazônia. E, embora receba financiamento da companhia Vale, leva adiante a sua missão de forma independente do ponto de vista jurídico, administrativo e de governança.
Assim, nos últimos dez anos, o Fundo Vale destinou US$ 42,4 M a 90 iniciativas lideradas por ONGs, startups, organizações da sociedade civil, associações e empresas, ajudando a proteger mais de 23 M de hectares de florestas8. Esses resultados foram alcançados mediante a promoção de iniciativas de preservação e uso sustentável da biodiversidade, o fortalecimento de negócios verdes, o apoio à melhorias da governança social e ambiental nos municípios e a geração e divulgação do conhecimento para ampliar capacidades. Além disso, o Fundo Vale vem apoiando sua mantenedora para atingir a Meta Florestal 2030, que prevê a proteção e, principalmente, a recuperação de 500.000 hectares de florestas no Brasil, cujo desafio é recuperar 100.000 hectares de áreas degradadas por meio de negócios que gerem retorno e impacto socioambiental.
Como mencionado, o Fundo Vale é financiado com recursos que provêm principalmente da Vale, na forma de doações. Assim, o capital de investimento é definido como capital paciente, catalítico e flexível, sendo utilizado em parceria com outros atores-chave do ecossistema9. O investimento de recursos, mediante fundos de investimento ou outros acordos com intermediários, como aceleradoras e incubadoras, requer que sejam atendidos os mesmos quatro critérios aplicados para doações, com exceção do ponto 3:
Resolver um problema social ou ambiental.
Investir em iniciativas ou organizações cujos negócios contemplem a geração de impacto.
Obter algum retorno financeiro.
Mensurar o impacto.
Conforme refletido nos critérios, a geração de impacto é prioritária para o Fundo Vale, mas também é importante o retorno financeiro, que é utilizado em sua totalidade como reinvestimento em novos negócios de impacto. A forma como o Fundo consegue equilibrar esses critérios é explicada pela teoria da mudança da organização, que permite desenvolver e fortalecer o uso de instrumentos financeiros com alto impacto, e buscar soluções sustentáveis para capitalizar e melhorar os projetos de forma que sua autonomia, escopo e impacto contribuam efetivamente para a recuperação dos biomas e a preservação ambiental. Isso não significa apenas fornecer capital, mas também destravar o acesso a outros recursos financeiros e negócios que tenham interesse em proteger as florestas e em ajudar que, nelas, existam cadeias de valor sustentáveis.
De acordo com a teoria da mudança10 os seguintes impactos são esperados:
Ecossistemas naturais protegidos e recuperados que permitam o uso sustentável dos recursos.
Comunidades locais e camponesas que trabalhem de forma colaborativa e organizada e que consigam um bem-estar mais sustentável a partir dos recursos naturais, tendo maior acesso a serviços e produtos que melhorem sua qualidade de vida.
Uma economia regenerativa baseada no aproveitamento dos recursos naturais e em uma distribuição
justa, igualitária e equitativa dos benefícios obtidos ao longo da cadeia de valor.
A Vale incorpora a agenda de impacto socioambiental do negócio em sua cultura organizacional para definir suas estratégias de longo prazo.
5 Fundo Vale (2021) 2020 Impact Report. (p. 15). Consultado aqui.
6 Aspen Network for Development Entrepreneurs, LGT Venture Philanthropy, Quintessa, y Universidad de St. Gallen (2014) Mapping the Impact Investing Sector in Brazil: Summary of finding. (p. 21). Consultado aqui.
7 Erthal, Pellegrino, Porto e Brasil (2019). Los Delitos Ambientales en la Cuenca del Amazonas: el rol del crimen organizado en la minería (p. 7). Programa de Assistência contra o Crime Transnacional Organizado na América Latina, União Europeia.
8 Fundo Vale (s.f.) 2030 Theory of Change.
9 É por isso que faz parte da Partners for the Amazon Platform, Amazon Investor Coalition, Cooperation for the Amazon, Brazilian Climate, Forest and Agriculture Coalition, e do United Nations Science Panel for the Amazon.
10 A teoria completa pode ser consultada aqui.
Aspectos Inovadores
No Fundo Vale, o destaque é o uso do capital misto.11 Esse instrumento possibilita a combinação de capital filantrópico, proveniente da Vale, para o cumprimento da missão da organização, com capital de investimento proveniente de parceiros. É o instrumento mais idôneo que a organização encontrou para equilibrar o impacto socioambiental com o retorno financeiro. Os gastos e custos operacionais da associação são custeados pela Vale, já que a estrutura operacional da empresa é utilizada para proporcionar a infraestrutura (por exemplo, escritório), o suporte jurídico e outros aspectos que garantem a integridade corporativa.
O capital filantrópico que a Vale aporta à associação é usado para promover iniciativas alinhadas com a sua missão, nas quais o Fundo Vale geralmente participa como cofinanciador. Um dos exemplos de destaque no portfólio de projetos da instituição é o da Amaz, aceleradora de impacto que apoia startups focadas na proteção da Amazônia. O Fundo Vale contribuiu com US$ 1 M e outros parceiros coinvestidores – Instituto Clima e Sociedade (ICS), Good Energies Foundation, Instituto Humanize e o Fundo JBS pela Amazônia, além de outros investidores de impacto – aportaram um montante adicional de US$ 4 M, totalizando US$ 5M para a iniciativa. O objetivo é apoiar a Amaz por 10 anos para realizar a aceleração de 30 empreendimentos, com o objetivo de contribuir para a recuperação das
florestas. No processo, O Fundo Vale viu a necessidade de aportar capital filantrópico e, também, capital de investimento em negócios locais para ampliar o escopo da intervenção em nível territorial. Do capital total da aceleradora, metade é utilizado no custo de operação e a outra metade é oferecido aos empreendimentos por meio de notas conversíveis. O retorno vai totalmente para a Amaz e seus investidores.
Outro caso de destaque é a parceria do Fundo Vale com a Conexsus (Instituto de Conexões Sustentáveis) e o Fundo CX, focada no apoio às associações e cooperativas da agricultura familiar e do extrativismo. Durante a pandemia da Covid-19, foi criada uma linha de crédito emergencial visando mitigar os impactos econômicos nas empresas comunitárias que alimentam o Brasil e protegem a riqueza natural. Foram investidos inicialmente US$ 2 M no total, dos quais US$ 1,1 M provenientes do Fundo Vale, parte em forma de recursos de fomento (doação) e parte como investimento no Fundo CX. Essa iniciativa financiou 85 empresas comunitárias (um terço delas na Amazônia), beneficiando diretamente 19.000 produtores e impactando 32.600 hectares de terra com modelos de produção
mais sustentáveis. Além disso, dentro do projeto, foram contratados 28 ativadores de crédito por 18 meses, e mais de 90 Planos de Desenvolvimento Organizacional (PDOs) foram preparados para que os produtores pudessem ter seus negócios fortalecidos e acesso facilitado a uma linha de crédito subsidiada pelo governo, permitindo destravar cerca de US$ 80 M em créditos. Adicionalmente, em 2021, a Conexsus ofereceu apoio não financeiro por meio de uma consultoria especializada em crédito rural a 22 empresas comunitárias, e lançou a plataforma Negócios pela Terra, uma solução de comércio social para vendas diretas que facilita a conexão entre empresas comunitárias e seus compradores, principalmente pessoas físicas.
O modelo de investimento socioambiental do Fundo Vale, com foco regional na Amazônia, tem feito diferença no fortalecimento do ecossistema de negócios de impacto nesta região. A decisão do Fundo Vale de investir na preservação e proteção dos biomas12, com foco na promoção de uma economia alternativa sustentável em locais como a Amazônia, traz uma nova forma de apostar na geração de impacto socioambiental, adicional ao modelo tradicional de filantropia, muitas vezes baseadas na cooperação internacional.
Finalmente, considerando que a estratégia da organização está desenhada para que os resultados, a gestão financeira e o impacto das iniciativas apoiadas tenham rastreabilidade, é implementada uma rigorosa medição e gestão do impacto. Todo o monitoramento, a mensuração do impacto e as metas são baseados na teoria da mudança, facilitando a demonstração dos resultados e do impacto a curto, médio e longo prazo13.
O Fundo Vale alinha sua metodologia de medição com padrões e indicadores globais, como a Global Impact Investing Network (GIIN), IRIS+, Impact Management Project (IMP) e os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável14. Considerando o exposto até aqui, as principais metas de gestão e medição levam a: